domingo, 26 de dezembro de 2021

Os gases

Por Josiani Freitas
Revisão: Luciana Freitas

Os gases são uma grande preocupação das mães; porém, qualquer pessoa pode tê-los. Gases podem tanto se acumular no estômago como no intestino e isso muda a forma como devemos encará-los.
O gás encontrado no estômago é o que inalamos quando nos alimentamos, choramos e, no caso dos bebês, também quando chupam o dedo. A sua forma de eliminação é o arroto. Já o gás encontrado no intestino, é proveniente da digestão de certos alimentos e tem um odor característico, sendo eliminado na forma de flatulência, o pum.
Quando um bebê engole muito ar mamando, o excesso de gases sai em forma de arrotos, não de muitos puns. Um bebê que mama incorretamente (seja por problema de pega ou outro problema orofacial, ou ainda devido a um fluxo muito forte de leite) pode tanto engolir mais ar, como pode mamar um leite mais rico em lactose e isso pode ocasionar muitos gases intestinais. Contudo, nem a pega errada é a principal causa dos gases e nem excesso de gases é considerado o principal sintoma de pega incorreta.
Muitas mães têm fixação para colocar o bebê para arrotar. Essa ideia surgiu com a disseminação do uso de berços e mamadeiras. Na mamadeira, o bebê engole mais ar mamando e deitado no berço é difícil eliminá-lo. Assim, surgiu o mito que é necessário por sempre pra arrotar após cada mamada.
Todavia, o fato é que bebês amamentados, que mamam com a pega correta não engolem quase nada de ar, pois os lábios criam um vácuo entre o mamilo e a boca do bebê, ao contrário da mamadeira. Por isso, é comum bebês amamentados não arrotarem após as mamadas. Já se a pega estiver errada, é mais provável os bebês acabem ingerindo mais ar mamando, o que é percebido com um barulho de estalinho na mamada. Nesse caso a correção da pega se torna necessária.
Há muita crença popular que o principal motivo de um bebê pequeno chorar sejam os gases. Muitos pais e pediatras optam por medicar esse “sintoma”, sendo comum tanto a prescrição de medicamentos que ajudam a expelir os gases do intestino, como aqueles usados para impedir a formação de bolhas de ar. Porém, há pouca evidência de que os gases de fato incomodam os bebês, salvo em casos extremos.
O mais provável é que isso seja um círculo vicioso: ao chorar muito, os bebês acabam engolindo muito ar; chorando os bebês não conseguem arrotar e as mães acabam interpretando esse choro inconsolável como “cólica”, quando na verdade o problema está justamente no choro. Pegar no colo e acolher o choro poderia evitar que muitos bebês fossem medicados por “cólica”.
Outro mito muito comum é de que a alimentação da mãe cause gases nos bebês. A lista de alimentos a evitar é extensa e variável (mudando muito de acordo com a cultura local); entretanto, não há nenhuma comprovação científica de que os alimentos causem gases, exceto no caso de bebês que apresentem algum tipo de alergia alimentar. No caso desses bebês, o excesso de gases é um dos inúmeros sintomas que podem apresentar.
Entretanto, no caso de a mãe estar sofrendo de hiperlactação (muitas vezes confundida com cólicas, refluxo ou alergia alimentar), temos uma situação diferente, em que há a necessidade de interromper a mamada toda vez que o bebê estiver incomodado e colocar para arrotar. Nesse caso, o bebe tem muita dificuldade em lidar com o excesso de leite que sai da mama, o que acaba fazendo com que engula mais ar mamando.
Não fique obcecada com os gases. Depois de mamar, faz muito bem para o bebê deixá-lo no colo, posição naturalmente vertical que facilita o arroto. Se ele não arrotar não se preocupe, é porque ele não tem ar para expelir.
Em suma: seu bebê não precisa de medicamentos (naturais, homeopáticos, fitoterápicos, alopáticos etc) ou de chás para eliminar os excessos de gases.
Referências:
GONZÁLEZ, Carlos. Un regalo para toda la vida: Guía de la lactancia materna. 2006.

Até quando vai dormir tão pouco?

Por Gabriela de Oliveira Moura da Silva

Revisão: Luciana Freitas


Quando uma mulher engravida e compartilha a notícia com a família e amigos, logo começam os conselhos: “Aproveite pra dormir bastante agora!”; “Você nunca mais vai ter uma noite inteira de sono”; “Bebê precisa desde a maternidade acostumar a dormir a noite toda.”
O que se vê de maneira geral, independente do que se tente “ensinar” com certos métodos de treinamento de sono é:
· 2 anos: acordam menos vezes de madrugada
· 3 anos: a maioria já dorme a noite toda
· 4 anos: conseguem dormir em outro quarto, mas ainda precisam de ajuda pra pegar no sono no começo da noite
· 7 anos: vão para cama, deitam e dormem sozinhos após um beijinho ou um outro ritual curto de despedida
Não é necessário fazer nenhum tipo de treinamento de sono: o bebê já sabe dormir desde a vida no útero. O que precisamos é de alguém que possa dividir os cuidados com a criança durante a noite, além de nos perguntarmos: “Estou fazendo o que funciona para nossa família? Ou só estou querendo agradar as pessoas de fora, que dizem que meu bebê precisa dormir sozinho pra não ficar mal acostumado?”.
Temos muita dificuldade em aceitar que o sono do bebê é diferente do sono dos adultos. Quantos de nós convivemos de perto com bebês e crianças pequenas? Sabemos mesmo como é o sono normal da maioria deles?
Nosso corpo foi biologicamente programado, ao longo de milhares de anos de existência no planeta, para na fase da primeira infância (bebês e crianças pequenas) estarmos sempre perto de algum adulto que possa nos proteger. Os filhotes humanos são vulneráveis, não conseguem procurar alimento ou abrigo sozinhos, então o padrão de sono normal faz com que bebês e crianças também tenham períodos de sono leve e breve despertar durante a noite, para que ao escutarem algum barulho estranho ou sentirem calor, frio, algo incomodando, chamem por nós.
Por isso não acreditem em promessas milagrosas de métodos de sono, pois o resultado desses métodos na maioria das vezes é muita frustração e choro, às vezes até mesmo um pouquinho de mágoa. E quando dizem que funcionou, o que ninguém sabe (porque os treinadores de sono não contam) é que dentro do bercinho pode estar um bebê que continua acordando, mas se conformou e não vai mais chorar, porque descobriu que nenhum adulto virá ajudar.

Crise dos 3 meses

Por Mariana Santana

Revisão: Luciana Freitas


Eis uma fase crítica para a amamentação. Alguns chamam de "crise dos 3 meses" ou "salto dos 3 meses", mas gosto de me referir a essa fase como "ajuste dos 3 meses" pois, grosso modo, tudo não passa de um ajuste de diversas questões, que acontecem ao mesmo tempo e criam um cenário similar ao de uma crise real!

Explico.

Por volta dos três meses, o corpo da mulher está encontrando seu equilíbrio na produção de leite. É mais ou menos por aí, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco depois, que as mamas param de vazar, encher, ingurgitar e passam a permanecer murchas durante todo ou quase todo o tempo.
O bebê está bastante treinado na arte de mamar e atinge um grau de eficiência tão grande que o leite que ele extraia em uma hora ou mais, agora consegue em poucos minutos. Ele também começa a se perceber um ser vivente num mundo imenso e cheio de estímulos e está doidinho pra conhecer tudo. Por isso, suas sonecas, antes normalmente fáceis, passam a ficar mais difíceis. O bebê pode passar a ter dificuldades de dormir em locais barulhentos e estimulantes. Assim, ele tende a dormir menos do que precisa e fica bastante cansado.
Mistura tudo isto e o que temos...
Um bebê que mama rapidinho e rejeita o peito quando a mãe tenta fazê-lo mamar novamente ou, ainda, que briga com o peito, se joga pra trás, troca de peito inúmeras vezes na mamada, por puro cansaço. Aliado a isto, mamas murchas o tempo todo. Receita para uma família insegura quanto à produção da mãe. Não é incomum que nesta fase se inicie uma complementação desnecessária, que geralmente é oferecida na mamadeira, o que acaba por trazer mais consequências negativas e pode levar a um desmame precoce.
Como sobreviver a esta fase?
A primeira e mais importante dica é estar ciente do que está acontecendo. Volta lá naquele post e relê tudo, várias e várias vezes. Saiba que, não, você não é exceção e que, sim, está acontecendo contigo exatamente aquele ajuste. Seu caso é aquele mesmo. Ponto.
Confia que seu peito murcho está produzindo leite, exatamente na quantidade que seu filho precisa.
Dito isto, existem algumas coisas a fazer para ajudar o bebê:
- crie uma rotina para as sonecas, alguns pequenos passos que você vai fazer sempre que for hora de dormir. Pode ser ir para o quarto, tomar um banho, cantar uma música, fazer uma massagem... Escolha 2 ou 3 coisinhas pra fazer sempre que for hora de dormir;
- reduza os estímulos. Agora seu bebê capta o ambiente ao redor de forma muito voraz! Cuide para que os ambientes não sejam muito coloridos, barulhentos, com muitas pessoas, brincadeiras ou brinquedos muito estimulantes;
- crie um ambiente para o sono. Agora um ambiente escurinho, confortável e tranquilo pode ajudar muito a criar o clima propício pra dormir. Esqueça a ideia de "treinar" ou "acostumar" seu bebê a dormir em qualquer ambiente. Nós adultos não dormimos em qualquer ambiente. E tudo bem! O importante é dormir;
- Atente-se ao tempo em que ele está acordado. Em geral mais de 2h acordado, nesta fase, pode significar um bebê muito cansado e hiperestimulado. Tente iniciar a rotina de sonecas antes desse tempo;
- mantenha a calma caso, mesmo assim, aconteça aquele choro inconsolável no fim da tarde. Converse, abrace e nine seu bebê, com calma. Tente acalmá-lo num sling ou debaixo de um chuveiro quentinho. Somente com o bebê mais calmo insista no peito. Se necessário, peça ajuda para alguém mais calmo assumir naquele momento e tente relaxar em outro ambiente antes de voltar.
Tenha em mente que essa fase delicada passa!
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