quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Como aumentar as chances de ter sucesso na amamentação- mesmo antes de começar

Recentemente uma mãe grávida do seu primeiro filho que planejava amamentar me fez essa questão:



Há algo que se possa fazer para aumentar as chances de sucesso na amamentação?Tudo que tenho lido fala que não existem problemas até esses apareçam e que não há nada que eu possa fazer com antecedência para prevení-los.


Ótima pergunta! Discordo disso, acho que há muito que se pode fazer pró-ativamente para assegurar sucesso na amamentação. Uma atitude pró-ativa para amamentar seu bebê passa por 3 elementos principais:

1. Escolhas individuais

2. Políticas institucionais e ações de profissionais da saúde

3. Circunstâncias incontroláveis


Escolhas individuais 

Vamos analisar o primeiro elemento, o que mais temos controle: suas escolhas individuais. Estas incluem seu conhecimento e experiência de amamentação, incluindo observação de parentes e amigas que amamentam, o uso ou não de analgesia e certas intervenções no parto, e suas escolhas de como educar seu bebê.

Primeiro, vamos discutir conhecimento e preparação . A maioria de nós crescemos e vivemos na cultura da mamadeira. As normas de alimentação por mamadeira se tornaram tão impregnadas na nossa cultura. Por exemplo, se estamos acostumadas a ver bebês tomando mamadeira, poderemos inconscientemente carregar nossos bebês e posiciona-los no peito como se eles fossem tomar uma mamadeira. Bebês que tomam mamadeira tem apoio em suas costas, encarando o teto. O bico da mamadeira é centralizado na sua boca.

A seguir vamos discutir as muitas escolhas que podemos fazer durante o trabalho de parto, nascimento e no período logo após o nascimento.

Nossas escolhas sobre analgesia, hora do nascimento (isto é, indução ou cesária eletiva), local de nascimento, e profissional da saúde (GO ou parteira) podem influenciar a amamentação. Por exemplo, o uso de medicações intravenosas e epidural no trabalho de parto afetam negativamente as taxas de amamentação, até entre as mães que pretendem amamentar e/ou já amamentaram outros filhos com sucesso.

A quantidade de contato pele-com-pele após o nascimento afeta o sucesso na amamentação; quanto mais contato pele-com-pele entre mãe e RN, maior a taxa de amamentação exclusiva após a saída do hospital.

Esses dados podem ser vistos aqui- http://jhl.sagepub.com/content/26/2/130.abstract.

Índices de amamentação também são maiores em Hospitais Amigos da Criança (http://www.unicef.org/brazil/pt/activities_9994.htm ).

Se você tem sorte de ter acesso a essas instituições (seja oficialmente reconhecidas ou não), isso deve pesar onde pretender ter seu bebê. Não entrarei em detalhes sobre como várias intervenções e práticas no trabalho de parto e nascimento afetam amamentação, mas essas informações estão no livro de Linda Smith e Mary Kroeger Impact of Birthing Practices on Breastfeeding, em português ‘Impacto das Práticas Obstétricas na Amamentação – Protegendo o Continuum Mãe-Bebê’.

O livro aborda cientificamente as repercussões das práticas utilizadas no parto, relacionando-as com o sucesso na amamentação.A pesquisa científica atual nos mostra que tudo o que ocorrer durante o parto terá repercussões na continuação da maternidade, e a amamentação é o fenômeno mais importante que se segue, pois terá efeitos importantes na mãe e no bebé, tanto físicos quanto psicológicos. Em suma, o sucesso da amamentação inicia-se na assistência ao parto.

Um trabalho em portugues com uma amostra no Nordeste brasileiro- http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n6/v81n6a11.pdf---

Finalmente, há as escolhas que fazemos como mães dos nossos bebês : amamentamos em livre demanda? Amamentamos com horários rígidos pré-programados? Dormimos perto dos nossos bebês, seja na mesma cama ou mesmo quarto? Usamos chupetas e mamadeiras, especialmente nas primeiras semanas?

Algumas das escolhas que fizermos irão ajudar a estabelecer uma experiência de sucesso na amamentação, e algumas irão ter impacto negativo na amamentação. Pense em todas opções, pesquise, se informe, e faça decisões informadas.


Políticas institucionais e ações de profissionais da saúde 

Outros elementos que interferem no sucesso da amamentação são as políticas institucionais e as preferência dos profissionais da saúde que te atenderão. Temos menos controle sobre esses fatores que temos sobre nossas escolhas individuais.

Por exemplo, se você tiver seu bebê num hospital público com uma política de levar todos os RNs rotineiramente para berçários para observação, mesmo de bebês saudáveis, ter seu bebê do seu lado em alojamento conjunto pode ser um desafio enorme!

É nesses casos que decisões muito bem pensadas no prenatal são pontos chave- até quando você possa decidir, claro. Muitas de nós estamos presas por restrições do plano de saúde (somente hospital X é coberto pelo plano, não Y ou Z), por regulações estaduais ou federais (se parto domiciliar ou casas de Parto são legalizadas) ou preferências do profissional da saúde (em algumas regiões médicos não atendem VBACs ou partos pélvicos).

O manejo das rotinas no parto e pós-parto podem influenciar o sucesso da amamentação. Por exemplo, entrar em trabalho de parto espontaneamente, usar métodos não farmacológicos para auxílio da dor, colocar o bebê junto a você pele-a-pele logo após o nascimento, são todas medidas que contribuem positivamente para o sucesso da amamentação.

Isso não significa que você não conseguirá amamentar se tiver uma epidural ou cirurgia cesareana, mas sim que essas circunstâncias podem levar a mais desafios na amamentação.

Se informe sobre as práticas de parto e políticas rotineiras no local onde pretende ter seu bebê e pense quais medidas aumentam sua chance de amamentar e como lidar com desafios que possa surgir se certas intervenções se tornem necessárias. Faça decisões pensadas, pesquisadas, informadas, considerando vários aspectos como localização geográfica, situação financeira, de plano de saúde, e onde e com quem irá ter seu bebê.

Circunstâncias incontroláveis

Em alguns casos a amamentação é difícil devido a circunstâncias que fogem ao seu controle, não importando o quão cuidadosa você foi com tudo que preparou e planejou. Alguns desses fatores incluem lingua presa, fenda labial, prematuridade, síndrome de Down, necessidade do bebê ficar em UTI neonatal, baixa produção de LM devido a desbalanços hormonais ou tecido glandular insuficiente (pode ser devido a mamoplastia), reflexo de descida do LM muito forte, e outros. Uma atitude pró-ativa na amamentação significa que você saberá como e quando pedir ajuda se alguma dificuldade surgir.

Antes do seu bebê nascer, se certifique onde procurar consultoras de amamentação e se teu plano de saúde cobre esse serviço. Saiba onde e quando o grupo de ‘La Leche League’ ou outro grupo de apoio a amamentação se reúne. Peça indicações de pediatras ou médicos de famílias que apoiem a amamentação, então se teu bebê tiver alguma complicação que possa afetar a amamentação, você sabe que tem alguém ao seu lado e não um profissional que desmama. Reúna uma rede de apoio de amigos e familiares que possam te ajudar nos desafios da amamentação.


Resumindo, você pode ter atitudes ativas para amamentar? Sim, você pode!


Tradução Andreia Mortensen

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