terça-feira, 24 de junho de 2014

Álcool e amamentação

Tradução: Andréia Stankiewicz


Mães que amamentam costumam receber conselhos controversos sobre se o consumo de álcool pode ter algum efeito sobre o bebê, o que as deixa se sentindo com mais perguntas do que respostas. Enquanto as mulheres são muitas vezes advertidas para não consumirem álcool durante a gravidez devido a evidências de que ele pode causar danos ao feto, os riscos do consumo de álcool durante a amamentação não são tão bem definidos.

‘Amamentar e beber’ não é contra a lei e as mães vêm apreciando álcool com moderação durante a amamentação ao longo da história. Os efeitos do álcool sobre o bebê amamentado estão diretamente relacionados à quantidade que a mãe ingere. Quando a mãe que amamenta bebe ocasionalmente e limita o seu consumo de álcool, não foi comprovado que a quantidade que o seu bebê recebe seja prejudicial. No entanto, muitas mães têm vontade de beber, mas ficam preocupadas com possíveis efeitos sobre o bebê.


O que considerar:

• A idade do bebê

Um recém-nascido tem um fígado imaturo, e será mais afetado pelo álcool.
Até cerca de 3 meses de idade, os bebês metabolizam o álcool em torno da metade da taxa dos adultos.
Uma criança mais velha pode metabolizar o álcool mais rapidamente do que uma criança pequena.

• Seu peso

O tamanho de uma pessoa tem impacto sobre a rapidez com que ela metaboliza o álcool.
Uma pessoa mais pesada pode metabolizar o álcool mais rapidamente do que uma pessoa mais leve.

• Quantidade de álcool

O efeito do álcool sobre o bebê está diretamente relacionado com a quantidade de álcool consumido.
Quanto maior o consumo de álcool, mais tempo leva para ser eliminado do corpo da mãe.

• Você estará comendo?

A bebida alcoólica consumida junto com alimentos diminui a taxa de absorção na corrente sanguínea.


Quanto álcool passa para o leite materno?

O álcool está presente no leite materno no mesmo nível que no sangue e varia subindo e descendo junto com ele. Se você sabe seu nível de álcool no sangue, você sabe seu nível de álcool no leite. O álcool passa livremente para o leite materno e foi encontrado um pico entre 30 a 60 minutos após o consumo, 60 a 90 minutos quando ingerido junto com alimentos.
O álcool também desaparece espontaneamente do leite da mãe e de seu sistema de forma que raramente é necessário extrair o leite e jogá-lo fora; se o álcool foi eliminado de seu sangue ele terá sido também eliminado do leite. Uma mulher de 54kg precisa cerca de duas a três horas para eliminar de seu corpo o álcool de uma dose de vinho ou cerveja... quanto mais álcool for consumido, mais tempo leva para ser eliminado. Pode levar até 13 horas para que uma mulher de 54kg elimine o álcool de uma bebida de alto teor alcoólico. Os efeitos do álcool sobre um bebê amamentado estão diretamente relacionados com a quantidade que a mãe consome. Alguns estudos citam 1 1/2 horas por unidade a ser metabolizada, até 7 unidades, e a partir de então, 2 horas por unidade.


O álcool pode afetar a oferta de leite?

Estudos descobriram que os bebês mamam com mais frequência quando a mãe consome álcool. No entanto, eles não metabolizam o álcool tão bem quanto os adultos, e quando há álcool no leite eles tendem a ingerir menos leite do que o normal durante as 3-4 horas após o consumo da bebida alcoólica. Aumentos compensatórios na ingestão foram observados durante 8-16 horas após a exposição, quando as mães se abstiveram de beber.
Quando isso se associa com a liberação mais lenta de leite resultante da presença do álcool, o crescimento do bebê pode ser comprometido caso a mulher beba quantidades significativas regularmente. Beber uma cerveja ou um copo de vinho umas duas vezes por semana, é pouco provável que seja problemático, e os efeitos diminuem à medida que o bebê fica mais velho. Níveis de álcool no sangue materno devem atingir 300 mg/100 ml antes que efeitos colaterais significativos sejam relatados na criança (80 mg/ 100 ml acusam no teste de bafômetro).


Tenho que ordenhar e descartar depois de beber uma bebida alcoólica?

Assim que o álcool sai da corrente sanguínea, ele deixa o leite materno. Como o álcool não fica "preso" no leite materno (ele retorna para a corrente sanguínea, assim que o nível de álcool no sangue da mãe cai), o ato de bombear e descartar não irá removê-lo. Ordenhar e desprezar, beber muita água, descansar ou tomar café não aceleram a taxa de eliminação do álcool do seu corpo.

A metabolização do álcool pelo adulto é de cerca de 30ml em 3 horas; mães que ingerem álcool moderadamente podem em geral voltar a amamentar assim que se sentirem neurologicamente normais. Se uma mulher quiser minimizar a quantidade de álcool que o seu bebê recebe ela pode tentar amamentar logo antes de beber: o leite estará novamente livre de álcool dentro de duas ou três horas.


O abuso de álcool afeta o bebê

Se uma mãe consome regularmente grandes quantidades de álcool isso pode prejudicar seu bebê. É recomendável que a mulher consulte um profissional de saúde sempre que tiver qualquer dúvida sobre a compatibilidade de seus hábitos de consumo alcoólico com a amamentação. As mães que estão intoxicadas não devem amamentar até ficarem completamente sóbrias, momento em que a maior parte do álcool terá deixado o sangue da mãe. Beber até o ponto de intoxicação (embriaguez) por mães que amamentam não foi adequadamente estudado. Uma vez que todos os riscos não sejam compreendidos, beber exageradamente não é aconselhável.

Se consumido em grandes quantidades, álcool pode causar sonolência, sono profundo, fraqueza e ganho de peso anormal na criança, bem como a possibilidade de diminuição do reflexo de ejeção de leite na mãe. Mães que bebem não devem compartilhar a cama com seus bebês, pois seus reflexos naturais serão afetados. Consumo excessivo de álcool pela mãe pode resultar em ganho de peso lento ou falhas no desenvolvimento de seu bebê. O reflexo de descida de uma mãe que abusa do álcool pode ser afetado, e ela pode não produzir o suficiente. O bebê pode dormir mais e perder mamadas, ou pode não conseguir sugar efetivamente levando à ingestão de leite diminuída. O bebê pode até sofrer de atraso no desenvolvimento motor.


Conselho Consultivo de Saúde da La Leche League Internacional

Dr. Jack Newman MD, FRCPC e Thomas W. Hale, R.Ph. Ph.D, ambos membros do Conselho Consultivo de Saúde da La Leche League Internacional acreditam que uma mãe pode beber um pouco de álcool e continuar amamentando normalmente.


Dr. Jack Newman diz isso em seu folheto "Mais Mitos sobre a Amamentação":
Ingestão moderada de álcool não deve ser desencorajada de todo. Como é o caso com a maioria das drogas, muito pouco álcool sai no leite. A mãe pode beber um pouco de álcool e continuar amamentando como ela faz normalmente. Proibir o álcool é outra maneira de tornar a vida desnecessariamente restritiva para mães que amamentam.


Thomas W. Hale, R.Ph. Ph.D., membro do Conselho Consultivo de Saúde LLLI, diz em seu livro sobre Medicamentos e Leite Materno (12 ed.):
Quantidades significativas de álcool são secretadas no leite materno, embora não seja considerado prejudicial à criança, se a quantidade e a duração forem limitadas. A quantidade absoluta de álcool transferida para o leite geralmente é baixa. A cerveja, mas não o etanol, tem sido avaliada em estudos sobre estímulo de níveis de prolactina e produção de leite materno (veja notas 1,2,3). Assim, presume-se que o polissacarídeo a partir de cevada pode ser um componente da cerveja estimulador de prolactina (nota 4). Cerveja sem álcool é igualmente eficaz.

Hale também sugere que as mães evitem amamentar durante 2 - 3 horas após o consumo de álcool.


Resumo:

Quando a mãe que amamenta bebe ocasionalmente e limita o seu consumo a uma taça/copo, a quantidade de álcool que seu bebê recebe não é comprovadamente prejudicial. Enquanto estamos constantemente revendo pesquisas, estudos atuais indicam que, apesar de significativas quantidades de álcool serem secretadas no leite materno, isto não é considerado nocivo para a criança, se a quantidade e a duração forem limitadas. A quantidade absoluta de álcool transferido para o leite geralmente é baixa.
Se uma mulher quer beber, mas fica preocupada com o efeito sobre o bebê, o leite materno pode ser ordenhado e armazenado para usar nessas ocasiões. Alternativamente, a mãe pode esperar que o álcool seja eliminado de seu corpo. Se os seios ficarem cheios enquanto espera, ela pode ordenhar manualmente ou com bomba, descartando o leite extraído, mas isso não irá acelerar a eliminação do álcool do organismo.


Se o consumo de álcool durante a amamentação é algo que aflige a mãe, então, ela pode optar por desfrutar de uma bebida não alcoólica em seu lugar. No entanto, muitas mulheres já se preocupam que a amamentação seja algo que não vai ser fácil de encaixar em suas vidas. Sentindo que as suas escolhas estão restritas, especialmente se elas se sentem cometendo um crime bebendo ocasionalmente durante a amamentação, isso poderia dissuadí-las de amamentar; negando, assim, tanto a si mesmas como a seus bebês, os muitos benefícios que poderiam obter a partir da amamentação.


Fontes:

1. Marks V, Wright JW. Endocrinological and metabolic effects of alcohol. Proc R Soc Med 1977; 70(5):337-344
2. De Rosa G, Corsello SM, Rufilli MP, Della CS, Pasargiklian E. Prolactin secretion after beer. Lancet 1982; 2(8252):934
3. Carolson HE, Wasser HL, Reidelberger RD. Beer-induced prolactin secretion: a clinical and laboratory study of the role of salsolinol. J Clin Endocrinol Metab 1985; 60(4):673-677
4. Koletzko B, Lehner F. Beer and breastfeeding. Adv Exp Med Biol 2000; 478:23-28
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