quinta-feira, 31 de julho de 2014

O exercício pode interferir na amamentação?

Achei esse texto bem explicativo para ás mães com a duvida sobre se fazer ou não exercícios no post-parto durante a amamentação. Ao final coloquei os links dos artigos citados nas referências.
Zioneth Garcia

Por Profa. Ms Gizele A. Monteiro

Correr “seca” o leite? Essa é uma pergunta que não é rara de acontecer. Também é uma observação feita por alguns profissionais que trabalham com mulheres no período Pós-parto.

O retorno ao exercício no Pós-parto sempre deve ser gradativo, mas não só por uma preocupação com a amamentação. Durante o período gestacional muitas alterações corporais ocorreram e o retorno ao exercício deve sempre ser orientado por um profissional que entenda essas mudanças do organismo feminino, diferenciando assim o programa e o atendimento. Diante desse quadro, voltemos a nossa questão. Um profissional que entende o que acontece com a mulher saberá dosar o exercício numa intensidade adequada para que essa questão não seja respondida de forma positiva.

Não só correr pode prejudicar a amamentação e o corpo da mulher, MAS QUALQUER EXERCÍCIO ORIENTADO DE FORMA INCORRETA. A produção de leite consome muita energia. Uma mãe em fase de amamentação produz entre 800 e 1200 ml de leite por dia e, para cada litro de leite que a mãe produz, há um gasto de 900 calorias em média. Portanto se o “exercício for intenso ou num volume elevado” e a mulher tiver uma ingestão inadequada poderá prejudicar a amamentação, pelo alto gasto energético que ocorre nesse período. Além do exercício e da ingestão alimentar inadequada, uma hidratação inadequada também poderá comprometer a amamentação.

As pesquisas relacionadas a amamentação e exercício observam um aumento de ácido lático no leite materno. Esse aumento relaciona-se com a intensidade do exercício, isto é, quanto mais intenso mais ácido lático haverá no leite. A grande discussão era que esse ácido lático poderia modificar o sabor do leite e dessa forma o bebê passaria a não aceitá-lo, sendo então que de forma indireta o exercício estaria interferindo na aceitação do bebê ao leite após o exercício pela mudança no sabor deste.

Alguns autores observaram essa resposta, havendo uma diferença na aceitação do leite em mães que realizaram “exercício intenso“, sendo o mesmo associado ao aumento da concentração de ácido lático. Os estudos com intensidades adequadas “não mostraram efeitos negativos” sobre a amamentação.

Cary & Quinn (2001) em revisão literária concluíram que “exercício e amamentação” eram atividades compatíveis, sendo que dos vários estudos analisados os mesmos não demonstram efeito prejudicial do exercício leve-moderado durante a lactação não afetando a composição, o volume do leite, o crescimento, o desenvolvimento infantil, ou a saúde materna. O exercício também teria um efeito muito importante na melhora da aptidão cardiovascular nas lactantes e na sensação de bem-estar quando comparara lactantes ativas com mulheres sedentárias.

Então concluindo: ao treinarmos, o organismo produz ácido lático e este ácido poderia modificar o sabor do leite, o que pode fazer com que o bebê rejeite o “peito”. Se o bebê não mama, o organismo não tem estímulo para produzir mais leite. Não havendo mais produção, o leite realmente pode “secar”, ou melhor, deixar de ser produzido.

O correto é que o profissional saiba organizar a sessão de treino para que as intensidades não sejam ultrapassadas, não só pelo aspecto da amamentação, mas também pelo exercício intenso ou em grande volume poder comprometer o sistema músculo-esquelético nesse período.

Dica importante - As mamas no período de amamentação estarão bem maiores e pesadas. Principalmente se a atleta for realizar atividades de impacto, como corrida, certifique-se de que eles estejam bem firmes (talvez seja necessário usar dois tops ou um suporte mais adequado).


Referências Bibliográficas:

Wallace, JP, Rabin, J. Int J Sp Med. 12 (3) :328-31, 1991. The concentration of lactic acid in breast milk following maximal exercise. Int J Sports Med. 12(3):328-31, 1991.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1889945
Wallace, JP, Inbar, G, Ernsthausen, K. Infant acceptance of postexercise breast milk.Pediatrics. 89(6 Pt 2): 1245-7, 1992. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1306643

Gale B. Carey, Timothy J. Quinn, Susan E. Goodwin. Breast milk composition after exercise of different intensities. J Hum Lact. 13(2): 115-20, 1997.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9233201

Quinn, TJ, Carey, GB. Does exercise intensity or diet influence lactic accumulation in breast milk? Med Sci Sports Exerc. 31(1):105-10, 1999.

Cary GB, Quinn TJ. Exercise and lactation: are they compatible. ? Can J Appl Physiol.26(1):55-75, 2001. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11173670

Wright KS, Quinn TJ, Carey GB. Infant acceptance of breast milk after maternal exercise.Pediatrics. 109(4):585-9, 2002. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9927017

Su, D, Zhao, Y, Binns, C, Scott, J, Oddy, W. Breast-feeding mothers can exercise: results of a cohort study. Public Health Nutrition. 10(10):1089-1093, 2007.http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17517152

Sobre a autora Profa. Ms Gizele Monteiro: Graduada em educação física pela FIG. Concluiu em 1994 a especialização em Ciências do Esporte pela Unicamp e em 1998 o mestrado na área de Fisiofarmacologia pela Unifesp.
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