sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sensação de pouco leite

Por: Diana Cassar-Uhl, MPH, IBCLC
Tradução: Gabriela de O. M. da Silva

(…)
As preocupações das mães, que as levam a parar de amamentar antes do tempo recomendado, podem estar relacionadas com as expectativas que elas têm a respeito de como os bebês se comportam. Após várias gerações de bebês alimentados com mamadeiras, as famílias perderam a habilidade de passar adiante o conhecimento a respeito de como um bebê amamentado normalmente se comporta. Sem saber a respeito de quanto tempo um bebê normal e sadio pode ficar sem mamar, como são realmente os padrões típicos de sono dos recém-nascidos, e o que os bebês fazem quando começam a sentir fome (antes de chorar, pois o choro é um sinal tardio de fome) as mães podem ter dificuldade em se manterem confiantes que seus corpos serão capazes de produzir leite suficiente. 
 
Os bebês alimentados com fórmulas comumente espaçam mais os horários de alimentação ou dormem por mais tempo do que aqueles que tomam leite humano, pois os leites não-humanos são mais difíceis para o bebê digerir. As mães podem então entender essa necessidade normal de amamentar com frequência, especialmente durante a noite, como um sinal de que o leite delas não é adequado, tanto em qualidade como em quantidade. Isso pode levar ao uso precoce e desnecessário de suplementos, e finalmente causar uma queda real na produção de leite: o bebê dorme por mais tempo enquanto digere as proteínas da fórmula, e o corpo da mãe não recebe o sinal de que mais leite precisa ser produzido(Walker, 2007). 
 
Esses mal entendidos, talvez resultado de falta de informações a respeito do comportamento normal dos bebês ou de um apoio local à amamentação, frequentemente levam a mãe a perceber um problema na amamentação ou produção de leite que na verdade não existe.
 
 

Sensação de Pouco Leite


A sensação de baixa produção de leite, também chamada Sensação de Leite Insuficiente (Neifert & Bunik,2013), acontece quando uma mãe produz leite suficiente para o seu bebê, mas acredita que não, frequentemente porque ela associa incorretamente comportamentos normais do bebê a fome ou insatisfação com o peito.
Vários fatores podem contribuir para essa sensação de pouco leite. Influências sócio-culturais, como uma avó preocupada e insistente que pensa que o bebê “acabou de mamar” então não pode estar precisando ser alimentado novamente, podem diminuir a confiança da mãe em sua capacidade de satisfazer o apetite do bebê. Manejo incorreto da amamentação, utilizando horários fixos para amamentar, que é encorajado por alguns programas de “treinamento para bebês”, pode também atrapalhar a sensibilidade da mãe em entender as necessidades do bebê, uma vez que a ensinam a ver pelo relógio se é hora de amamentar, e não a observar os sinais de fome do filho. 
 
A fisiologia da amamentação, como a mulher acreditar que suas mamas são grandes o bastante, ou se o peito vaza leite, se está endurecido e pesado, ou sente a “descida do leite” quando ele começa a ser produzido, também podem afetar a percepção da mãe a respeito da sua habilidade de produzir leite, apesar de todos esses fatores não serem indicativos da produção de leite. 
 
O estado psicológico da mulher, principalmente se ela estiver deprimida ou ansiosa a respeito de sua capacidade de cuidar do bebê que ela gerou, também pode contribuir para a sensação de baixa produção (Dykes & Williams, 1999). Sem o apoio qualificado, competente e consistente da amamentação em cada comunidade, é difícil saber verdadeiramente quantas mães lutam contra essa sensação de leite insuficiente, ou uma impossibilidade real de amamentar exclusivamente o bebê. 
 
Pesquisas indicam que existe sim uma relação entre o temperamento considerado “difícil” de um bebê e pouco entendimento a respeito dos sinais do bebê (McMeekin, Jansen, Mallan, Nicholson, Magarey, & Daniels, 2013)—um bebê que é muito inquieto ou choroso pode ser considerado faminto, mesmo quando não estiver, e sua mãe pode acabar concluindo que é incapaz de produzir leite suficiente para ele. Apesar de nem sempre sabermos se a mãe produz leite suficiente com a intervenção e apoio competentes, a Sensação de Leite Insuficiente, incluindo preocupação quanto à produção e se o bebê está crescendo o necessário, tem aparecido constantemente entre as razões mais comuns para as mães introduzirem complemento com fórmulas infantis ou mesmo parar de amamentar completamente (Li, Fein, Chen, & Grummer-Strawn, 2008;Gatti, 2008; Ahluwalia, Morrow, & Hsia, 2005).

Enquanto continuamos a identificar fatores de risco para a insuficiência real de leite (variações na anatomia oral do bebê, hipoplasia mamária ou desenvolvimento glandular insuficiente, índice alto de massa corpórea antes da gravidez , resistência à insulina, ou outras disfunções hormonais), é importantíssimo que as mães, acreditem ou não que estejam no grupo de risco, encontrem apoio adequado à amamentação antes mesmo do nascimento dos bebês. Uma aula pré-natal a respeito de amamentação pode ensinar as famílias a reconhecer quando a amamentação está indo bem ou não. Obter ajuda qualificada e competente o mais breve possível, pode fazer uma grande diferença na produção de leite, seja o problema resultado de informações incorretas a respeito do comportamento normal dos recém-nascidos, ou uma dificuldade real na amamentação.


 

Fontes:

Is Your Milk Supply Really Low? @ 
Ahluwalia, I. B., Morrow,B., & Hsia, J. (2005). Why do women stop breastfeeding?Findings from the Pregnancy Risk Assessment and Monitoring System. Pediatrics, 116(6),1408–1412.
Centers for Disease Controland Prevention. (2012). Breastfeeding report card 2012, United States:Outcome indicators. Retrieved from http://www.cdc.gov/breastfeeding/data/reportcard2.htm
Dykes, F. & Williams,C. (1999).  Falling by the wayside: aphenomenological exploration of perceived breast-milk inadequacy in lactatingwomen.  Midwifery,15(4), 232-246.
Ezzo, G. & Bucknam, R.(1995). On becoming babywise. Parent Wise Solutions, Inc.
Ezzo, G. & Ezzo, A. M. (1993). Growing kids God’s way. Growing Families International Press.
Gatti, L. (2008). Maternal perceptions of insufficientmilk supply in breastfeeding. Journal of Nursing Scholarship, 40(4), 355-363.
Li, R., Fein, S. B., Chen,J., & Grummer-Strawn, L. M. (2008).  Why mothers stop breastfeeding:mothers’ self-reported reasons for stopping during the first year.  Pediatrics, 122(Supp.2), S69-S76.
McMeekin, S., Jansen, E.,Mallan, K., Nicholson, J., Magarey, A., & Daniels, L. (2013). Associations between infanttemperament and early feeding practices:  A cross-sectional study ofAustralian mother-infant dyads from the NOURISH randomised controlled trial. Appetite, 60(1), 239-245.doi: 10.1016/j.appet.2012.10.005
Neifert, M. R. & Bunik,M. (2013). Overcoming clinical barriers toexclusive breastfeeding. Pediatric Clinics of North America, 60(1), 115-145. doi:10.1016/j.pcl.2012.10.001
Odom, E. C., Li, R.,Scanlon, K. S., Perrine, C. G., & Grummer-Strawn, L. (2013). Reasons for earlier than desiredcessation of breastfeeding.Pediatrics,131, e726-e732. doi:10.1542/peds.2012-1295
Walker, M. (2007). Breast-feeding: Good starts, goodoutcomes. Journalof Perinatal and Neonatal Nursing, 21(3), 191-197.

Sobre a Autora:

Diana Cassar-Uhl, MPH, IBCLC, tem apoiadofamílias e profissionais de saúde na amamentação desde 2005  como uma Líder na La Leche League, IBCLC,instrutora de amamentação e pesquisadora. Escreveu “FindingSufficiency: Breastfeeding with Insufficient Glandular Tissue,” quesera publicado pela editora PraeclarusPress  em julho de 2014. Apesar das vida acadêmica e carreira amanterem em Washington, DC, Diana mora em Nova York, com o marido e três filhos.



Link para o original em Inglês:
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