segunda-feira, 30 de março de 2015

Tudo Sobre o Choro dos Bebês

De "Soluções para noites sem choro" - https://www.facebook.com/solucoes.noites.sem.choro?fref=ts

“Por que os bebês choram?

Há cerca de 1,5 milhões de anos, os ancestrais dos humanos caminharam em duas pernas pela primeira vez. Isso deixou os braços livres para realizar tarefas complexas e, com o tempo, a inteligência desenvolveu-se mais. A mudança para o bipedalismo significou que a pelve humana tornou-se mais estreita e, como as capacidades intelectuais aumentaram, o cérebro tornou-se maior. A solução evolucionária a respeito do parto foi fazer com que o bebê humano nascesse muito imaturo, porque de outra forma a cabeça grande não passaria pelo canal estreito da pelve materna. Esta imaturidade significa que os bebês humanos precisam completar grande parte do seu desenvolvimento fora do útero. Sigmund Freud estava certo quando disse que o bebê humano chega ao mundo “inacabado”. Você precisa pensar no seu recém-nascido como um “feto fora do útero”.

Sim, seu bebê é imaturo. Sim, ele é muito sensível. Sim, ele é muito vulnerável ao estresse.

Seu bebê vai chorar por muitas razões. Ele vai chorar porque está cansado ou faminto ou muito estimulado por demasiada distração dos adultos. Ele passa facilmente de um estado de medo do perigo ou choque – choque se o ambiente está muito claro, muito frio, muito quente, muito hostil, muito agitado. A amídala na parte inferior do cérebro, que funciona como um detector de provável perigo funciona perfeitamente a partir do nascimento.

Imagine o mundo do bebê. Como ele pode saber que aquele liquidificador barulhento não é um predador que virá atacá-lo? Como ele pode lidar com o estresse de ser despido e mergulhado na água quando você o coloca no banho?

A princípio, pode ser difícil descobrir o que o choro significa

Com o tempo, você será capaz de decifrar os choros cada vez com mais precisão. Você aprenderá, por exemplo, diferenciar um choro de fome de um choro de cansaço. Tendo dito isso, haverá ocasiões em que você não saberá o porquê do choro. Isso não importa. O que importa é que você acalme seu bebê e que você tenha consciência mental e emocional para ouvir o choro e considerar seriamente o pânico e a dor do seu filho.

Por quanto tempo esta choradeira persiste?

Os três primeiros meses são geralmente os piores. O choro costuma ter um pico quando o bebê está entre 3 e 6 semanas de vida e depois diminui por volta de 12 a 16 semanas. Sheila Kitzinger sugere que o choro diminui por volta dessa idade porque é quando os bebês são mais móveis e podem segurar objetos, brincar com eles, então eles não mais choram por tédio ou frustração.
  
Bebês mais velhos e crianças entre 18 meses a 4 anos ainda choram quando estão com frio, com fome, cansados, doentes, embora o choque neste mundo tenha dramaticamente diminuído. Mas eles são inundados de sentimentos novos. Eles sofrem com os episódios de pânico pela ansiedade de separação e tornam-se cada vez mais claros a respeito dos seus gostos e desgostos, sobre o que os amedronta e o que os desagrada. Na criança pré-verbal, o choro geralmente significa “não”. “Não, eu não quero que você me tire do seu colo, faz com que eu fique em pânico”. “Não, eu não quero ir no colo de um estranho, eu estava tão bem nos seus braços.” “Não, eu detesto como este casaco arranha minha pele”.

Toda esta resposta de pânico significa altos níveis de substâncias químicas inundando o cérebro do bebê

Estas substâncias químicas não são por si sós perigosas, mas é um caso diferente se elas permanecem circulantes no cérebro por períodos prolongados de crises de choro e ninguém considera seriamente o pânico do bebê e oferece-lhe conforto. Distanciar-se emocionalmente do estresse da criança, não importa o que dizem os livros sobre treinamento para o sono – ou até pior, responder com raiva ao choro do bebê (embora algumas vezes você sinta assim) – nunca é apropriado.

Choro Prolongado

Vamos deixar claro – não é o choro por si só que pode afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê. Não é. É o estresse prolongado, ignorado, não confortado. Então não estou defendendo que você corra para o seu filho assim que o lábio inferior comece a tremer ou após um curto protesto de choro que dura poucos minutos (talvez porque ele não tenha recebido sua bala favorita). O choro prolongado é aquele que qualquer pai e mãe sensíveis (ou qualquer pessoa que seja sensível à dor alheia) irá reconhecer como um pedido desesperado de ajuda. É o tipo de choro que dura e eventualmente pára quando a criança está completamente exausta e cai no sono ou, num estado de falta de esperança, deduz que a ajuda nunca chegará.

Se um bebê é deixado chorando com frequência, o sistema de resposta ao estresse no cérebro pode ser afetado para o resto da vida

Existem muitos estudos científicos em vários locais do mundo mostrando como estresse no início da vida pode resultar em mudanças negativas no cérebro do bebê. Uma criança que é abandonada chorando por longos períodos pode desenvolver um sistema de resposta ao estresse que seja super sensível e que vai afetá-la para o resto da vida. Isso pode significar que muito frequentemente a percepção dela sobre o que está acontecendo à sua volta será permeada por um senso de ameaça e ansiedade, mesmo quando tudo está perfeitamente seguro.
  
Um bebê pode manipular ou controlar os pais através do choro?

Pais podem se perguntar se o bebê deles está usando o choro para manipulá-los, especialmente quando ouvem comentários dos seus amigos e parentes bem intencionados, como “Simplesmente o deixe chorar. Ele está tentando controlar você. Ceda agora e ficará arrependido depois.” Nós agora sabemos que isso é impreciso em termos neurobiológicos.
Para controlar um adulto, um bebê precisa do poder de pensamento claro e, para isso, ele precisa da substância química cerebral glutamato trabalhando bem nos seus lobos frontais. Mas o sistema de glutamato não está apropriadamente estabelecido no cérebro do bebê, então isso significa que ele não é capaz de pensar muito acerca de coisa nenhuma, que dirá manipular os pais.
Alguns pais ficam alheios à dor do filho, e escutam o choro como “é só um choro”. Isso pode ser resultado da forma como foram criados. Uma vez que ninguém respondeu quando eles eram bebês, eles são agora incapazes de sentir o desconforto do filho.

O que está acontecendo no cérebro do bebê?

Pais responsáveis nunca deixariam um bebê numa sala cheia de fumaças tóxicas que poderiam danificar o cérebro da criança. Ainda assim, muitos pais deixam seu bebê num estado de estresse prolongado, desassistido, desconhecendo que ele está sob risco de níveis tóxicos de substâncias químicas inundarem seu cérebro.
Gerações antigas deixavam o bebê chorando porque acreditavam que “exercitava os pulmões”, sem a menor ideia do quão vulnerável ao estresse é o cérebro de um bebê. Num bebê que chora, o hormônio do estresse cortisol é liberado pelas glândulas adrenais. Se a criança é confortada e acalmada, o nível de cortisol diminui novamente, mas se a criança é deixada chorando, o cortisol permanece alto. Isso é uma situação potencialmente perigosa, porque depois de um período prolongado, o cortisol pode atingir níveis tóxicos que podem danificar estruturas-chaves e sistemas no cérebro em desenvolvimento. O cortisol é uma substância química que pode permanecer no cérebro em altos níveis por horas e, em pessoas clinicamente deprimidas, por dias ou até semanas.”

Do livro The Science of Parenting, de Margot Sunderland, 2006.
Tradução de Flávia O. Mandic.

Leituras adicionais:

Sobre as substâncias químicas que inundam o cérebro do bebê em condições de choro e estresses prolongados
Estresse na infância - Choro excessivo no bebê e cortisol


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