terça-feira, 1 de novembro de 2016

Carregadores de bebês


Por Maria Birman Cavalcanti
Revisão: Juliana Gieppner
 
O objetivo deste texto é incentivar as mães a carregar juntinho! O GVA entende que carregar bebês junto ao corpo preserva a exterogestação e facilita a amamentação. Queremos orientar os cuidadores em relação às questões fisiológicas que estão envolvidas no carregar para que isso possa ser posto em prática com conforto e segurança.  
Ao redor do mundo e através do tempo diversas culturas tradicionais desenvolveram formas de carregar seus bebês. Bebês pequenos têm extrema necessidade de colo e contato humano, e não costumam aceitar ser deixados sozinhos no berço ou no carrinho sem protestar. Há quem diga que se deve deixar o bebê chorar para “acostumá-lo” a ficar sozinho, que assim se tornará independente – o que sabemos que não é verdade. Quando uma mãe decide, por saber ser o melhor para ela e para o bebê, dar colo contínuo, em livre demanda, como pode então sair na rua, passear, ou mesmo executar tarefas simples dentro de casa, como lanchar ou mexer no celular, se tem as mãos constantemente ocupadas?
Felizmente, existem os carregadores de bebês, que são verdadeiros facilitadores de colo. Um carregador de pano ou uma mochila ergonômica funciona como um par de braços extra, que permite carregar o bebê junto ao corpo, satisfazendo sua necessidade de colo, aconchego e calor humano, ao mesmo tempo em que permite a quem carrega liberdade de movimento.
  
Nos primeiros três meses de vida do bebê, a fase da exterogestação, ter um carregador é muito útil para a puérpera. Nessa idade os bebês demandam muito colo e muitas mães não conseguem sequer comer ou usar o banheiro sem que a criança chore ao ser afastada dela. Nesses casos o carregador torna possível realizar essas atividades com a criança no colo e as mãos livres. Tarefas domésticas como lavar louça, varrer a casa ou passar as roupas do bebê também são possíveis. É muito comum recebermos queixas de bebês novinhos que fazem mamadas intermináveis – bebês são espertos, e se percebem que só tem colo e contato com a mãe quando estão sendo amamentados podem reagir a isso aumentando a demanda do seio. Carregar o bebê constantemente pode ajudar, nesses casos, pois a demanda de colo estará suprida e o bebê só irá mamar quando realmente o desejar.
Mais tarde, com bebês mais velhos, que já exploram outros espaços e não demandam mais tanto colo o pano de carregar continua sendo extremamente útil. Dá enorme liberdade para passeios, sendo muito mais prático que o carrinho no transporte público e em terrenos acidentados. É um ótimo aliado para ninar os bebês e colocá-los para dormir, especialmente na rua, quando estão fora de seu ambiente – mas se sentem em casa no colo das mães.
Para carregar recém-nascidos: o corpo do bebê deve estar apoiado completamente sobre o corpo da pessoa adulta, sem sobrecargas nas costas ou articulações. O joelhos ficam elevados, com as pernas formando um M, e a coluna fica em C, postura saudável e característica de bebês até os três meses. A ideia é que o pano proporcione estabilidade para esse apoio total corpo a corpo, como as mãos do adulto fariam naturalmente ao segurar a criança verticalizada no colo. O peso do bebê não deve recair sobre seu bumbum (numa posição “sentado”) ou sobre os tornozelos (numa posição de “sapinho” com os pés dentro do pano), mas sim sobre o corpo do adulto. A altura que o bebê fica em relação ao corpo do adulto é fundamental para garantir conforto para quem carrega – muito baixo ou muito alto, o peso do bebê forma um vetor que causa mudanças na postura do adulto, o que pode ocasionar dores na coluna. Um bebê bem posicionado não sobrecarrega a coluna de quem carrega, que consegue manter uma postura ereta e levar o peso do bebê sem, por exemplo, projetar o quadril ou abaixar os ombros. Conforme o bebê cresce e passa a sustentar melhor seu próprio peso, a posição que assume no carregador muda, naturalmente.
Há diversas formas de carregar bebês: diferentes tipos de carregadores, tecidos e acabamentos. As regras para carregar com segurança e conforto, entretanto, são as mesmas para todos os modelos.
Até os seis meses:
  • O bebê deve sempre ser carregado voltado para quem o carrega e nunca de frente para o mundo
  • O bebê deve sempre ser carregado na vertical
  • A coluna do bebê deve estar em forma de C
  • A coluna e o pescoço devem estar sustentados
  • O bumbum do bebê deve estar profundo em posição de cócoras
  • Os joelhos do bebê devem ficar acima do bumbum em forma de M
  • O assento deve fornecer apoio de joelho a joelho
  • O bebê deve ficar na “altura de beijinhos” (altura em que a pessoa que está carregando consegue beijar o topo da cabeça do bebê ao abaixar o rosto)
  • Os pés ficam para fora
Após os seis meses:
  • O bebê continua sempre de frente para quem o carrega, e na vertical
  • Conforme o bebê adquire mais controle da coluna, ele fica menos curvado
  • O pescoço não precisa ser sustentado pelo pano se o bebê estiver acordado
  • O bumbum deve ficar na mesma altura dos joelhos (posição sentado)
  • Carregadores pré-formados (mochilas e mei-tais) não precisam ir de joelho a joelho, desde que os joelhos estejam na mesma altura do bumbum – carregadores de pano devem continuar sendo usados de forma que deem apoio de joelho a joelho
  • O bebê deve ficar na altura de beijinhos, se posicionado na frente, e deve conseguir ver por cima dos ombros de quem carrega, se posicionado atrás
  • Os pés ficam para fora
Os cangurus tradicionais não são recomendados pois não são ergonômicos, isso é, não permitem que o bebê fique em posição fisiológica. Isso torna a experiência de ser carregado desconfortável para o bebê, que fica “pendurado” pela região genital, e pode protestar veementemente, além de perigosa, na medida em que a articulação coxofemoral (entre a perninha e o quadril) fica sem apoio, favorecendo a má formação do quadril, algo que pode repercutir até a vida adulta. Além disso ficar virado para o mundo é uma experiência sensorial estimulante demais para o bebê, que rapidamente se cansa e fica estressado.
Existem várias formas de carregar e o mais importante é atentar para a segurança: escolher um tecido que sustente o peso do bebê, que não seja quente demais e que deixe a pessoa que carrega confortável. É possível amarrar com xales, cangas, lençol, coberta, camiseta velha, tecido de sacaria... Desde que o bebê esteja bem ajustado e quem o carrega se sinta bem, um pedaço de pano com único nó pode ser o suficiente para levar um bebê numa amarração lateral.

Mochilas ergonômicas se parecem com os cangurus, mas conseguem manter o bebê na posição fisiológica, e são opções muito práticas para carregar. Elas não exigem amarração e são facilmente ajustáveis para diferentes bebês e corpos. Para bebês novinhos, que ainda não controlam a coluna, é preciso usar um insert, uma peça extra que torna a mochila segura para eles. 

Os panos de carregar bebê são conhecidos no Brasil genericamente como “slings” e são subdivididos nos seguintes tipos mais comuns:
  • Wrap: nada mais é do que uma faixa de tecido sem emendas, que pode ser amarrada em torno do torso para carregar o bebê. Os wraps são classificados de acordo com o material do qual são feitos e de acordo com o comprimento do pano. Existem wraps elásticos e rígidos/planos.


    • Wrap Elástico: pode ser confeccionado em malha ou dry-fit de poliéster ou poliamida. Deve ter entre 5 e 6 metros de comprimento, pois é preciso reforçar o assento com mais de uma camada de pano, e pode ter entre 60cm e 70cm de largura. É o tipo de carregador de pano mais fácil de encontrar e costuma ser o mais barato. Como são necessárias várias camadas de pano para sustentar adequadamente o bebê, costuma ser mais quente. 


    • Wrap de tecido plano/rígido: feito em tear industrial ou manual, pode ser bem curto, com pouco mais de dois metros de comprimento, ou longo, com até cinco metros, e tem 70cm de largura. Permite diversas amarrações diferentes, na frente, de lado e nas costas, com apenas uma camada de tecido, duas ou três. É o carregador mais versátil, dá conta de recém-nascidos e crianças mais velhas, aguenta bastante peso sem ceder e distribui o peso do bebê nas costas de maneira uniforme. Entretanto, é menos prático do que outras opções porque exige mais técnica para amarrar. Diversos materiais podem ser utilizados, entre eles o algodão, o linho e a seda, por exemplo. Algumas tramas são o jaquard, a sarja cruzada, a sarja diamante e sarja espinha de peixe. Os tamanhos longos (entre quatro e cinco metros, dependendo do tamanho da pessoa) possibilitam mais amarrações, mas também podem ser mais difíceis de manusear. Uma opção barata de wrap rígido é o tecido de sacaria, ou pano de prato. Ele já vem em rolos com 70cm de largura, basta comprar a metragem desejada para começar a usar. 

  • Sling de argola: é um carregador unilateral feito sempre de tecido plano – nunca de tecido elástico. Tem entre 1,80m e 2m de comprimento e 70cm de largura, e duas argolas especiais costuradas em uma das extremidades. É muito prático de tirar e colocar, pois não arrasta no chão, e pode ser usado com recém nascidos e com crianças mais velhas, que gostam de “subir e descer” do colo a toda hora. Para ser seguro deve-se atentar para as argolas apropriadas, que devem ser roliças e sem emendas, e para as bordas, que não podem ser acolchoadas para que sejam ajustáveis. Permite carregar a criança de frente para o cuidador ou de lado.


  • Mei-tai: é um carregador de pano inspirado nos carregadores tradicionais orientais, com um painel retangular onde a criança fica e quatro faixas para amarrar em volta dos ombros e do quadril. Permite levar o bebê na frente, nas costas e de lado. Existem versões “evolutivas”, nas quais é possível ajustar as medidas da base e das laterais do painel. Se for usado na frente as alças do mei-tai se cruzam nas costas, o que possibilita uma distribuição confortável do peso do bebê.

Mas... Qual é o melhor carregador de bebês??
Depende!
Depende de inúmeros fatores, mas aqui estão alguns que devem ser considerados: acessibilidade (o que eu posso adquirir nesse momento?); limitações do cuidador (carregadores e amarrações unilaterais não são recomendados para quem tem problemas de coluna); idade da criança (um recém nascido ainda precisa de apoio total da coluna até o pescoço, um bebê mais velho pode querer ver o mundo e se irritar por ficar barriga com barriga, um bebê que já anda pode querer subir e descer com frequência); preferência pessoal (há quem prefere a praticidade de uma mochila com insert, e quem adora aprender várias amarrações desafiadoras com um wrap rígido, há quem não goste de panos longos porque as pontas arrastam no chão); disponibilidade e vontade de aprender amarrações diferentes (um mei-tai, por exemplo, é mais simples de amarrar que um wrap...); condições do local onde vive e tipo de passeio que costuma fazer (wrap de malha e mochila com insert são muito quentes, e podem até superaquecer recém-nascidos no verão, enquanto mochilas e mei-tais são mais frescos), entre outras.
Quando o carregador é útil?
Bebê no colo, mãos livres, e nada de carrinho para empurrar, tudo ao mesmo tempo!! Além da liberdade de movimento que carregar no pano permite, o uso de carregadores traz outras vantagens, em diversos momentos ao longo da sua história com o bebê! Nos primeiros meses o pano recria o ambiente intrauterino (restrição de movimentos, barulho dos batimentos cardíacos, cheiro característico) e é uma ótima opção para acalmar bebês inquietos. Uma crise de choro – seja ela causada por “cólicas”, pela “hora da bruxa ou pela confusão de bicos – pode cessar muito mais rapidamente com a ajuda de um carregador e algum movimento do cuidador. Bebês com refluxo se beneficiam enormemente de serem mantidos em posição vertical. Quando a rotina é quebrada ou estamos fora de casa, tirar uma soneca amarradinho com a mamãe é uma ótima forma de isolar o bebê do excesso de estímulos do ambiente. Carregar no pano permite o colo contínuo, estreita laços entre cuidador e bebê, e facilita a amamentação. Por último, mas não menos importante: todos os cuidadores podem ser estimulados a carregar o bebê com ajuda de um carregador, não só a mãe!

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