terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Bebê não faz o peito de chupeta

Por Luzinete R. C. Carvalho (Psicanalista)

Para adormecer, o bebê precisa estar relaxado, sentindo-se seguro e acolhido.
O ato de sugar proporciona grande parte das sensações agradáveis e a tranquilidade que o bebê precisa para atingir tal relaxamento e conseguir adormecer e para continuar dormindo.
Se o bebê ou criança usa chupeta, esta serve para saciar a necessidade de sucção para adormecer.
A chupeta também é usada para acalmar o bebê ou a criança em situações de nervoso, irritação, quando se machuca ou se assusta por qualquer motivo.
Percebam que é um gesto inconsciente este de oferecer a chupeta para o bebê que chora, que se machucou ou que está sonolento.
Não vejo ninguém criticando um bebê, que usa chupeta, por precisar usar sua chupeta para dormir.
Nunca vi ninguém dizendo que um bebê, que usa chupeta, não pode usar sua chupeta para fazer sua soneca.
É o contrário, geralmente justificam dizendo que a chupeta é "só para dormir".
Mas vai um bebê precisar do peito da sua mãe para conseguir adormecer...
Me contem, quantas vezes ouviram críticas a respeito de bebês que precisam do peito para dormir?
Ninguém diz que um bebê não pode recorrer a chupeta para dormir, mas dizem que um bebê não pode recorrer ao peito para dormir.
E então, em uma grande inversão de conceitos e valores, dizem que o bebê faz "o peito de chupeta".
Como se o peito tivesse a função limitada de apenas alimentar.
Desconsideram o papel que o peito tem para transmitir segurança, tranquilidade, aconchego e para relaxar e acalmar os bebês.
Não.
Nenhum bebê faz o "peito de chupeta".
A chupeta é que é introduzida para: conter, acalmar, relaxar, tranquilizar, auxiliar no processo de adormecer, etc.
Se a chupeta foi introduzida, por qualquer razão, e serve como "suporte" em todos esses casos, as pessoas só precisam saber que o peito essencialmente também serve para tudo isso.
Se a chupeta é socialmente aceita, com tanta passividade e displicência, para ser usada em todos esses casos, então é preciso aceitar que o peito da mãe pode, e deve, ser oferecido sempre que o bebê precisar ser acalmado, acolhido, adormecido.
O papel da amamentação vai para além de saciar a fome física.
A amamentação também é aporte psíquico, também sacia a fome emocional.
Este texto não é para falar sobre os males e os riscos de oferecer a chupeta, que existem e devem ser levados em conta individualmente por cada família.
Este texto não é para que ninguém precise justificar ou explicar o uso da chupeta.
Este texto é para que as mães que NÃO usam a chupeta, possam se sentir a vontade para continuar recorrendo ao peito, caso vejam utilidade e necessidade.
Este texto é apenas para dizer que é errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê adormeça mamando.
É errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê se recupere de uma queda mamando.
É errado criticar uma mãe por permitir que seu bebê se acalme mamando.
A chupeta é colocada na boca dos bebês e crianças em todas as situações citadas (e muitas outras) sem que ninguém se exaspere, afinal, é para isso que a chupeta serve.
O peito, antes da invenção da chupeta (sim, a chupeta foi inventada depois do peito), sempre serviu para saciar todas as necessidades físicas e emocionais de um bebê.
Antes de criticar a maneira como uma mãe conduz a amamentação do bebê DELA, reveja seus preconceitos, reflita sobre a sua própria ignorância a respeito da amamentação.
Antes de criticar a maneira como uma mãe conduz a amamentação, respire fundo 10 vezes, e não diga nada sem se informar melhor sobre o assunto, e tentar perceber se, por acaso, não são os seus conceitos que precisam mudar, expandir, melhorar...
Resumindo, era só para dizer que:
- Bebês possuem necessidades não nutritivas de sucção.
- Não é errado bebê recorrer ao peito para dormir.
- Não é errado bebê recorrer ao peito para se acalmar.
- Não é errado a mãe acolher, acalmar e adormecer seu bebê no peito, se ela puder e quiser.
- É muito errado criticar uma mãe por causa da maneira que ela escolheu manejar a amamentação.
- Sempre dá tempo de refletir e mudar preconceitos.